O dia em que João virou sol
Não que quisesse, mas um tanto distraído, João viu correr de si algumas camadas de pele.
Continuou caminhando, não tão certo se esse descompasso de regras e convicções lhe definia.
Por vezes queimou-se sob lâmpadas e correu para a sombra, mas por não fazer pararem de tremer os lábios, arrependeu-se de não saber ficar em paz.
E João observava pássaros. Era inevitavelmente atraído por tanto descompromisso.
Caminhou sob chuvas, enquanto pisava seus poemas mais sinceros.
E tantas lacunas em sua solidão o fazia confundir o próprio afeto.
João acordava cedo todos os dias e convidava o sol pra dançar.
Sempre pronto para ser feliz, sabia que o amor seria incapaz de lhe negar um sorriso.
As paisagens nubladas, que para João eram sempre glaciais, faziam a saudade luzir seu rosto.
Depois de tantas quedas, aparentemente amparadas pelas belas mãos, o menino percebeu que nesses tombos deixava um pouco de seu tato e que seus afagos já não eram os mesmos. Tornaram-se apenas afagos.
Oh, doce João. Amou tanto que exauriu o próprio coração.
Volta e meia mergulhava o olhar no rumo das gaivotas. Era impelido àquele gesto.
De tanto cansaço, sua alma transpirou pelos olhos.
João jamais deixou de velar pelos seus. Como o guarda mais fiel, cuidou do sono de seus queridos e, ainda que os próprios sentidos suplicassem misericórdia, ostentou a fidelidade acima da própria cabeça.
Por diversas vezes, mendigou esmolas ao lado de Deus. Não para testar a bondade dos homens, mas para contemplá-la. No meio dos sujos sentira o aconchego de uma família.
João caminhava nas ruas tal qual se caminha no fundo do mar e era cercado por todas as coisas, como se percebesse o mundo girar.
O menino era tão sábio quanto ingênuo. Talvez por isso tenha conquistado o respeito do acaso.
Inebriado, João via sair de si aquilo que sentia inevitável desejo de buscar.
Certo dia, numa das pedras mais altas de uma praia remota, João ergueu os braços e sentiu a textura do céu nas pontas dos dedos.
Mas era impelido a algo mais. Era no rumo dos pássaros que seu coração ansiava por habitar.
Aos poucos, foi perdendo a firmeza dos pés e os sentiu cada vez mais distantes das pedras.
Peter Pan estava aprendendo a voar.
Era em direção ao sol que as aves seguiam e para lá ele mirava seu pensamento.
Quanto mais intensas eram a luz e o calor da estrela, mais o menino se entregava àquela viagem.
Não que quisesse, mas completamente irradiado por raios luz, João sentiu correr de si algumas camadas de pele.
À certa altura, as aves foram ficando para trás, enquanto o menino alvorecia, luzia, ardia.
Muito mais que apenas fundir-se ao destino, tornou-se o próprio destino.
Este dia brilhou muito mais.
O dia em que João virou sol.
Continuou caminhando, não tão certo se esse descompasso de regras e convicções lhe definia.
Por vezes queimou-se sob lâmpadas e correu para a sombra, mas por não fazer pararem de tremer os lábios, arrependeu-se de não saber ficar em paz.
E João observava pássaros. Era inevitavelmente atraído por tanto descompromisso.
Caminhou sob chuvas, enquanto pisava seus poemas mais sinceros.
E tantas lacunas em sua solidão o fazia confundir o próprio afeto.
João acordava cedo todos os dias e convidava o sol pra dançar.
Sempre pronto para ser feliz, sabia que o amor seria incapaz de lhe negar um sorriso.
As paisagens nubladas, que para João eram sempre glaciais, faziam a saudade luzir seu rosto.
Depois de tantas quedas, aparentemente amparadas pelas belas mãos, o menino percebeu que nesses tombos deixava um pouco de seu tato e que seus afagos já não eram os mesmos. Tornaram-se apenas afagos.
Oh, doce João. Amou tanto que exauriu o próprio coração.
Volta e meia mergulhava o olhar no rumo das gaivotas. Era impelido àquele gesto.
De tanto cansaço, sua alma transpirou pelos olhos.
João jamais deixou de velar pelos seus. Como o guarda mais fiel, cuidou do sono de seus queridos e, ainda que os próprios sentidos suplicassem misericórdia, ostentou a fidelidade acima da própria cabeça.
Por diversas vezes, mendigou esmolas ao lado de Deus. Não para testar a bondade dos homens, mas para contemplá-la. No meio dos sujos sentira o aconchego de uma família.
João caminhava nas ruas tal qual se caminha no fundo do mar e era cercado por todas as coisas, como se percebesse o mundo girar.
O menino era tão sábio quanto ingênuo. Talvez por isso tenha conquistado o respeito do acaso.
Inebriado, João via sair de si aquilo que sentia inevitável desejo de buscar.
Certo dia, numa das pedras mais altas de uma praia remota, João ergueu os braços e sentiu a textura do céu nas pontas dos dedos.
Mas era impelido a algo mais. Era no rumo dos pássaros que seu coração ansiava por habitar.
Aos poucos, foi perdendo a firmeza dos pés e os sentiu cada vez mais distantes das pedras.
Peter Pan estava aprendendo a voar.
Era em direção ao sol que as aves seguiam e para lá ele mirava seu pensamento.
Quanto mais intensas eram a luz e o calor da estrela, mais o menino se entregava àquela viagem.
Não que quisesse, mas completamente irradiado por raios luz, João sentiu correr de si algumas camadas de pele.
À certa altura, as aves foram ficando para trás, enquanto o menino alvorecia, luzia, ardia.
Muito mais que apenas fundir-se ao destino, tornou-se o próprio destino.
Este dia brilhou muito mais.
O dia em que João virou sol.