uma madrugada apagada no cinzeiro
eu acendia a fim de ascender
tentava poesia
e nem sei se terminava
tornava a adormecer
"Olha, Pessoa. Que me diz dessa poesia?"
Ele olhava com atenção. Penso que lia mais de uma vez, pelo tempo que demorava com os olhos no texto.
Movia os lábios como se balbucia a lembrar d'uma equação. E em seu rosto eu lia três expressões, que embora não se contradissessem, tampouco se completavam.
Eu avistava Drummond e lhe chamava: "mestre, que podes me dizer deste textículo?" Já pessoa se dispersara em caminhos distintos. Ora, Carlitos tirava os óculos para ler, terminava, e já me dirigia a sentença redonda como suas caricaturas... quando um pivete lhe furtava os óculos e ele, definitivamente calava.
"Não é possível"
Leminski acenava. "Este há de me dar um parecer", pensava.
Apareceu e...
até parece.
disse:
"para fazer um bom poema
caríssimo
não se apresse
recomendo três dias de paciência
um abraço
e uma prece"
até que chegou o Manoel de Barros, olhou e perguntou: "o que é?"
Eu disse nada. Ele tomou nas mãos, olhou de cabeça pra baixo, passou baba de eclipse e sentou em cima do poema,
fitando a paciência nas folhas
e finalmente disse: "rapaz, está uma merda isso aqui!"
meus olhos encheram d'água.
também sou fraco para elogios.