Esse século maravilhoso que a vida do novo zé contempla está um tanto supremo. As novas modas, o novo senso comum, as tendências da estação, a new popular musication rebolation, o arco-íris fazendo música, o casamento gay, os pretos e as mulheres querendo ser homens brancos, os best-sellers, as redes sociais, a intrépida justiceira opinião pública e tudo mais. Enfim, toda a massa metamórfica da primeira década do século é mesmo soberana.
Com toda a humildade de um pobre suburbano latino americano, gostaria, encarecidamente, de pedir um espacinho miúdo, que pode ser entre o comercial e o merchandising, pro saudosismo cultural.
Para aquele mendigo que já foi milionário.
Vejam o senhor Machado de Assis, coitado. Que já fora tão aclamado em sua literatura. Hoje tão desdenhado. Caiu dos romances para os trechos pequenos dos livros didáticos. Até história em quadrinhos o coitado já virou pra ver se despertava algum interesse. Jorge Amado, com uma sacada mais publicitária, arriscou ir pro cinema. Se deu certo eu não sei. Sei que gostei e guardei os comentários pra mim, por falta de alguém pra discutir.
Chico Buarque de Holanda, que não é bobo nem nada, garantiu logo seu quinhão nas ondas da MPB FM, Caetano e Gil fazendo parcerias com a moçada a torto e a direito. Tudo pra não cair no esquecimento.
Aliás, e esse tal de rádio né... Não é que o danado ainda não foi pra sucata.
É radinho, quem te viu, quem te vê. Tu que fostes tão pomposo, jactancioso, todo pimpão, com suas donas de casa à volta para ouvir a novela. É radinho, hoje elas estão sabendo da novela até mesmo antes da televisão. E ainda nessa mesma, Dom Vinícius e toda a Bossa tem que esperar a vez do Maneco para ter um espacinho em horário nobre. Isso enquanto o velho não morre, né.
Agora, que mané Portinari e Tarsíla que nada. Manda aí um tubo de jet que a gente vai tacar o nome, mané.
Eu estou vendo umas viagens meio psicodélicas, com bala (que não é a juquinha), com ácido(que não é o sulfúrico), nas salas e nuns muros sujos, mas a garotada anda dizendo que é arte. Bom, isso é lá com a galera de 22 que foi dar asas a essa tal de arte moderna. Naquele tempo era moderna. Hoje é ultrahípermegamaster moderna.
Nem o velho Drummond escapou da new wave moderna. Esses dias ouvi alguém comentar dele. Aí outro candango perguntou: "Esse daí 'num' é aquele careca da pedra no meio do caminho?"
É. É bom saber que essa juventude ainda se lembra do velho poeta. Que deprimente.
Oh, mas veja bem, dona Modernidade, me desculpe aí se eu acabei faltando com o respeito. Não queria perder a humildade, até porque estou aqui lhe pedindo um favor. Mas é que "Tem certos dias em que eu penso em 'minha gente' e sinto assim todo o meu peito se apertar..." Eu to meio assim compadecido dessa poesia e literatura que ficam batendo nas portas das bibliotecas, suplicando um lugarzinho empoeirado lá nos fundos; dessa música brasileira esclerosada que fica zanzando pra lá e pra cá com essa faixa de Miss pendurada, escrito Popular enquanto ninguém a conhece mais; e desse cinema que fica implorando a aprovação dos americanos, como aquele aluno que quer passar de ano e fica aporrinhando a professora por uma estrelinha em seu caderno.
Com toda a humildade, dona Modernidade, tende piedade.
Se algum desconhecido ler esse post,e se esse desconhecido for alguém um pouco mais velho, vai imaginar "Nossa, alguém que ainda lembra das coisas do nosso tempo";
ResponderExcluirSe for alguém no auge dos seus 15,16 anos, vai pensar "afinal, do que esse garoto latino americano tá falando?";
Mas pode ser que seja alguém da nossa idade que diga "Enfim, pude encontrar alguém que ainda valorize o que realmente é bom".
Será? rs
É, definitivamente, você é meu complemento escrito.
Concordo em gênero, número e grau.
ResponderExcluirE vou aproveitar o ensejo pra comentar algo também: Dá no saco essa pós modernidade, na qual qualquer coisa genérica feita de qualquer maneira vira algo "artístico e pós moderno", na falta de uma classificação mais específica.
Acabou-se a essência gostosa e realmente criativa das coisas antigas.
E pra não esquecer:
"Alan, seu doidão!"
Gostei do post!
Abraços!
Pra entrar na onda da mulecada a gente teria de parar de viver das ossadas de nossos ídolos mortos e esquecidos.
ResponderExcluir"Que Madonna o que, se temos agora a Lady Gagga!" eu ouvi de um menino de 15 anos.
Esses ritmos eletrônicos frenéticos e descompassados só dão espaço à alienação.
A músca que inspira, que apaixona, se perdeu em alguma cova junto a algum de seus poetas.
Como disse meu querido Kiiiiilber(daquele jeito que você fala), essa arte genérica que é feita nas coxas, ainda ganha classificação; ah, essa tal de Pós-Modernidade.
Posso ser nostálgica demais e até não ter muitos argumentos contra esses rumos que a Modernidade vem dando à musica, à arte, ...
Mas eu ainda prezo por meu fim de tarde na pedra do arpoador, na companhia de meus queridos velhos e ultrapassados cantores.
ps.:Até que você não é tão bocó.
Um grito à boa música. Um salve à arte de verdade. Um viva à cultura inteligente.
ResponderExcluirHoje, os queridinhos são coloridos e formam uma família de alienados; a musa parece ter saído de uma irreverente fábrica de robôs com parafusos a menos; o astro vive precocemente a síndrome do estrelismo.
A pós-modernidade e os modernos desse tempo já não sabem o que é bão, meu irmão.
Alan, que maravilha ler um texto como o seu, especialmente, por descobrir estar uma pessoa de escrita de primeira linha entre os meus alunos. Em tempos em que a poesia precisa implorar por um espaço qualquer empoeirado, na era do rebolation, vale a pena dar aula, até pelo fato de vc e tantos outros compensarem as idiotices que ouço por aí. às vezes, até em sala de aula.
ResponderExcluirPARABËNS e VIVA A PALAVRA (BOA PALAVRA). SEMPRE!!!!!
IVANA