Santa Tartaruga

"Let's get together and feel all right"



sábado, 27 de novembro de 2010

When I Was Young

  Sabe essa saudade da infância que, mais cedo ou mais tarde, se faz perceber em nossas vidas? Pois é. Dentre duas, uma: Ou amadurecemos ou apodrecemos. O peso das responsabilidades, os amores que vão, o 'não saber o que é amor', as lembraças ocasionadas por velhos amigos ou velhos lugares que permaneceram com a mesma idade, os impostos, os bancos, as provas, as incertezas, o sexo, o dinheiro ou a falta dele... tudo isso vem confirmar que o tempo está cumprindo sua função.
É curioso: estabelecemos a sabedoria para a terceira idade, a felicidade para a primeira, mas regemos o mundo pelas regras da segunda.
  Nessa segunda, ou meia idade, enfim, entre os prazeres da adolescência e as responsabilidades de uma família, parece que idealizamos o futuro. Estudamos, trabalhamos, planejamos, conciliamos, estressamos. Na idade mais avançada, nos assolam as lembranças de nossa juventude. Tenho a impressão de que a única época em que nos importamos especificamente com o presente é a infância.
Essa idade em que os adolescentes-adultos geralmente procuram se especializar numa formação profissional específica, me faz observar como somos tolos.
  Acontece que hoje estou me especializando em uma profissão, mas "when I was young"(jovem que eu digo é criança mesmo) eu tinha tantas formações:
Sabia Economia. Pois com as moedas que ganhava do vovô tinha de me organizar direitinho para que não deixasse nenhum dos colegas chupando dedo. Sabia Educação Física, afinal haja pique para tantos 'piques'(ajuda-pega-esconde-cola...), gangorras, escorregas, balanços e adjacências. Sabia Biologia. Tudo bem, a biologia das minhocas e do corpo feminino pelas frestas ou fechaduras, mas sabia. Sabia Direito: "Folhinha de abacate, ninguém me rebate" – regra é regra. Era bincadeira mas não era bagunça. E tem mais: "Mexeu o chinelo é trave". Sabia Comunicação Social, vulgarmente conhecida como 'telephone sem fio'. Sabia Literatura, tanto a internacional que passava por Peter Pan, Chapeuzinho Vermelho e Alice, quanto a nacional, com as aventuras do Sítio do Picapau Amarelo, Turma da Mônica e Menino Maluquinho. Sabia Artes, tanto que mamãe queria emoldurar todos os meus desenhos. Sabia Arquitetura, digo contruir castelos de areia, de cartas, enfim eu podia ser Einstein com tantas formações.
  Pois bem, sei que o tempo e o envelhecimento desenvolvem a nossa capacidade de aprendizado, mas não a de discernir o que realmente vale a pena aprender.
  A questão não é a eterna infância, mas dar a ela o tempo necessário. E com certeza esse tempo vem sendo ceifado com o próprio tempo.
  Podem até dizer que é saudosimo sim, podem dizer que é clichê mas "que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!"

4 comentários:

  1. Olá Doidão, beleza?
    Nossa muuuito bom seu texto. Adorei.
    A gente olha para você sempre tão doidão, sempre tão perdido e não imagina que você pode ser tão bom com as palavras!!
    Parabéns. Você escreve muito bom.
    Deu até saudades da infância...
    Beijos, Analine.

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  2. Seu texto realmente mostra uma coisa que é verdade: só na infância nos preocupamos com o presente, só aí não temos nenhuma preocupação. Bem, até temos, mas esquecemos depois de uns dez minutos. E o pior de vê-la passar tão rápido, é ver como as novas gerações a encurtam. A precocidade às vezes pode ser um veneno. Literalmente.

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  3. Você me inspira.

    ps.: E não é 'sempre tão perdido'.

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  4. Quando li "A Inveja", da série Plenos Pecados, do grande escritor Zuenir, fiquei estarrecido pela maneira simples e ao mesmo tempo, impecável com que ele usa as palavras. Fiquei literalmente com inveja. É assim que me sinto quando leio bons textos. É assim que estou me sentindo após a leitura desse texto. Parabéns, 'meu poetinha maior'!!!

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