Há muito tempo, é notória a presença e influência da cultura europeia e norte americana no Brasil. Talvez até um pouco mais que a influência, a presença é indiscutivelmente massante. O New York City Center, os best-sellers e as trilhas sonoras estão aí e não me deixam mentir.
O Mercosul, vá lá, permeia uma questão econômica e uma série de burocracias enfadonhas. Mas essa, digamos assim, resistência cultural brasileira em relação a América Latina me causa uma inquietação pungente. E o pior: não há nos dias atuais, pelo menos aparentemente, restrições à essa convergência cultural. Outrora, enquanto a ditadura regia tantos países do continente, era notório o diálogo entre a música, entre o cinema latino. Secos e Molhados, uma das maiores bandas do mundo, com o perdão do exagero, compactava em sua música a psicodelia, a poesia brasileira e os ritmos sul-americanos. Caetano Veloso, numa época em que a MPB transgredia muito mais do que se limitava, defendia sua composição Alegria, Alegria, num festival de música, acompanhado de uma banda de argentinos - os Beat Boys. Sem falar do Movimento Tropicalista, que coloria a música brasileira de América do Sul.
Nessa mesma realidade de afirmação cultural, surgia o cinema-novo. Com a ideia na cabeça e a câmera na mão, cineastas geniais como Glauber Rocha e Nelson Pereira, passavam a abordar as questões sociais não só do país, mas de todo o continente. O "intelectual" assumia a causa do proletariado.
Um poco menos radical que Glauber, não classifico o cinema europeu e norte-americano tão somente como cinema burguês. Mas, ainda sim, tendencioso e superficial em muitos de seus filmes. A maioria do que nos chega ultimamente é entretenimento barato e de finalidade unicamente financeira, o que acaba empobrecendo a arte. Não quero, com essa afirmação, demonstrar desdém ou ingratidão às grandes obras que nos chegaram desses países. O comentário se refere a maioria.
A literatura, parece ser a arte menos afetada por esse distanciamento cultural do Brasil com os demais países latinos, talvez porque nunca tenha havido de fato uma relação concreta de troca e influências entre eles. Aliás, aqui não se pode negar que o mundo inteiro seja influenciado pelos clássicos europeus. O que não é ruim. Mas só a título de curiosidade, já que você está online, dê uma olhada em Júlio Cortazar, Pablo Neruda e Gabriel Garcia Marquez.
Em relação ao cinema, essa situação não aparenta progresso. Um filme argentino (O Segredo dos seus Olhos) ganha um oscar e você nem consegue achá-lo nas locadoras direito. Por outro lado, os cartazes de Transformers espalhados pelos prédios da cidade são do tamanho de um caminhão.
Na música, é possível encontrar, na recente geração da MPB, parcerias como a do uruguaio Jorge Drexler com Maria Rita e da mexicana Julieta Venegas com Lenine e Marisa Monte. Eu sei, eu sei. O México não está dentro dos limites territoriais da América do Sul. Mas não se trata exatamente de localidade e sim de uma identificação social e histórica.
Che Guevara nasceu na Argentina, lutou no Congo, na Bolívia e em Cuba. Dizia que, embora tivesse nascido na Argentina, sua nacionalidade era latino-americana. Considerava toda a América Latina como uma única nação. Quem dera.
Essa singela reflexão não tem a intenção de propor nenhuma restrição à disseminação da cultura europeia ou norte-americana no país. A intensão se resume a alertar sobre a necessidade da valorização e difusão da cultura latino americana, não somente no Brasil, mas em todo o continente.
Mas ainda assim, "viva la revolución!"
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